19 de outubro de 2008

Lá fora

A noite escura e fria embala os corações de todos os que lá fora esperam mais um amanhecer. As camas de cartão feito disfarçam a rigidez do chão ou do banco de jardim, e adormecem. Adormecem como quem abafa os sentidos do nada ter, como quem esquece a tristeza de ser sem ser, como quem perdoa a rigidez daquele chão que toda a noite os acolhe.

São sem tecto, são sem casa, são aquilo que todos um dia podemos vir a ser, mas que (ainda) não somos. A vida nalgum momento foi madrasta e não mãe para aqueles que sem pressa vêm a lua, sem romantismo observam as estrelas e do céu fazem o tecto, e do jardim fazem a casa, e da rua fazem a vida.

Os parques de estacionamento são o trabalho, a ocupação, a igreja é a esmola que ainda que mal garantida, é o possível pão do dia. E a baixa é o passeio. Não o passeio de quem passeia, mas o passeio que se torna irmão, familia, companheiro de um e outro dia.

Lá fora, a noite que embala estes filhos da rua, diz-me que é hora que dormir... Amanhã, mais um dia virá, e amanhã, a noite será menos fria, menos escura, menos madrasta, mais mãe.

3 comentários:

Alez disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alez disse...

Uma realidade dura e cada vez mais presente... Sao registos como este que não nos deixam fechar os olhoas àqueles que fazem de tudo para o fazer! É preciso dar um valor enorme ao sofrimento destas pessoas que, ao contrario de nós, não têm um lar, uma familia, amor, uma refeição completa! Muita força para estes senhores!!

Anónimo disse...

Há dias complicados...