22 de fevereiro de 2009

O calor da rua deixa esquecer o frio que por lá ficou. Hoje, com a viagem a terminar muito se conta, mas muito fica ainda por contar.
As malas demasiado grandes para o pseudo-(mini)espaço, as corridas para o voo que afinal nunca mais chegava, a Notting Hill police station, o Lawry da recepção, ou o Isaías. O querido Isaías que só não experimentou a força da mão portuguesa porque era demasiado baixo para a mão lhe chegar. E a carteira. A bela carteira fugitiva que nos deixou sem rumo, sem fôlego e mais tarde sem ânimo. A viagem começou com quatro e puff... depressa nos tornamos em três. Poderosa magia ein? Tao poderosa que gerou a confusão que ainda hoje se mantém. Cena caricata se tivesse acabado da forma que todas queríamos. 30£ que se tornaram em 180 e numa passagem para Portugal. Ninguém merece.
Mas a carteira por lá ficou, e nós tivemos que andar. Em Londres aconteceu de tudo um pouco. A euforia, o choro, a loucura, o desânimo. O riso compulsivo travado apenas pela carteira preta.
Com a Gui sempre omnipresente mas sempre presente ( =$ lol ), passamos para Berlim. Não houve carteiras roubadas, nem Police Stations, mas pés molhados pela neve que não parava de cair. Frio. Um frio mesmo frio. Um frio de 10º negativos e tantos museus para ver.
No fim acho que posso dizer que soube bem. Soube mesmo bem. Soube bem sentir o frio da neve, soube bem a adrenalina da incerteza. Podia ter sabido bem melhor, mas como alguém disse no inicio: Esta viagem vai ficar para a História.

Parece que me vou convencer de que se corresse melhor talvez não ficasse tão marcada.
Uma nova já está prometida: Wir kommen zurück ;)

10 de fevereiro de 2009

Parabéns.
Dizemos esta palavra por tantos motivos, por tantas vezes, por tantas situações.
Dizemo-la por nós e pelos outros.

Hoje digo-a para ti : Parabéns =)

8 de fevereiro de 2009

Próxima estação: Tempo

Próxima estação: Marquês de Pombal. Fala incansável, a voz de todos os dias, de todas as horas naquela toupeira irrequieta que percorre túneis escuros e pesca pessoas para logo as deixar.
Saem pessoas, entram pessoas.

Ao fundo, na última carruagem, vestindo umas iguais a tantas calças de ganga, e um igual a tantos blusões azuis, está um rapaz. Os phones nos ouvidos adivinham-lhe a juventude que a cara não esconde e que o gel no cabelo negro acentua. Encostado ao saco adidas que o ombro direito suporta, olha o relógio demoradamente como quem o interroga numa conversa mental que só os dois entendem.

Olho-o curiosa, quando todos os outros, na sua azáfama interior, o parecem ignorar.

Próxima estação: Parque. Saem pessoas, entram pessoas.

O saco, ainda que pequeno, pesa-lhe. Pousa-o no chão. Não, não é no chão que fica. Pega-o de novo. Passa-o para o ombro esquerdo. Não, também não é assim que fica. Dá uns passos em frente e senta-se. Agora sim pode pousar o saco entre as pernas, cruzar os braços e desfrutar da música e da viagem.

Próxima estação: S.Sebatião. Saem pessoas, entram pessoas.

Descruza os braços, tira o telemóvel do casaco azul e olha-o por segundos para logo o colocar no mesmo bolso de onde saiu momentos antes. Cruza os braços. Segundos depois volta a descruzar. Olha o relógio com grande impaciência.

Apoia-se sobre as pernas entortando o corpo como se quisesse segredar ao ouvido da velhota que à sua frente lê com prazer uma qualquer página de um gratuito. Volta a olhar o relógio recostando-se sobre a cadeira e deixa que os olhos se passeiem pelos restantes companheiros de momento para logo os pousar nas horas que o relógio marca.

Quererá parar o tempo ou ajudá-lo a avançar?

Continua a olhá-lo e a (re)olhá-lo.

Próxima estação: Praça de Espanha. Saem pessoas, entram pessoas, mas ele continua ali na sua santa impaciência. Uma impaciência igual a tantas que se sentam naqueles bancos todos os dias. Iguais a tantas outras que correm nas escadas antes do bip final. Igual a tantas outras que não se fazem rogadas por ignorar o mundo e apenas sentirem o tic-tac e o efeito dele. Um tic-tac que controla sem se deixar controlar. Um tic-tac difícil de esquecer.

Próxima estação: Jardim Zoológico. Pega no saco e sai. Saio também, deixando a pena de não ver onde o relógio o leva. Comboio ou autocarro. Pais ou Namorada. Trabalho ou lazer. Corre. Corre sem largar o saco.

Corre contra um tempo que não parou para o ver correr. Corre porque já é difícil andar. E muitos sem sequer olharem ao relógio, correm com ele.

Correm porque o tempo, é como todos aqueles que lutam e correm contra ele…Corre. Corre sem deixar tempo para um andar que mesmo acelerado seria estranhamente perder tempo.


[Crónica apresentada em Géneros Jornalísticos ]